José Aldazábal
É a invocação que se eleva a Deus para que envie o seu Espírito Santo e transforme as coisas ou as pessoas. Vem do grego, epi-kaleo (chamar sobre); em latim, in-vocare.
Na Oração Eucarística da Missa há duas epicleses (cf. IGMR 79c):
- a que o sacerdote pronuncia sobre os dons do pão e do vinho, com as mãos estendidas sobre eles, dizendo, por exemplo: «Santificai estes dons, derramando sobre eles o Vosso Espírito, de modo que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Oração II) – é a epiclese «consacratória»; outras Orações Eucarísticas pedem que o Espírito «torne», «abençoe», «santifique», «transforme» o pão e o vinho;
- a que o sacerdote diz na mesma Oração Eucarística, depois do memorial e da oferenda, pedindo a Deus que de novo envie o seu Espírito, desta vez sobre a comunidade que vai participar da Eucaristia, para que também ela se transforme, ou se vá construindo na unidade:
«humildemente Vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos pelo Espírito Santo congregados na unidade» (Oração II) – é a epiclese «de comunhão», que, noutras Orações Eucarísticas, pede que «sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito»; «Derramai sobre nós o Espírito… fortalecei o vosso povo com o Corpo e o Sangue do vosso Filho e renovai-nos a todos à sua imagem»…
Estas duas epicleses, nas Anáforas orientais e na da liturgia hispano-moçárabe, estão unidas e dizem-se depois do relato da instituição. Enquanto que na liturgia romana – e em algumas das orientais, como a alexandrina – situam-se uma antes da consagração e a outra depois.
Foi um enriquecimento que, agora, no rito romano, se tenha decidido nomear claramente o Espírito na primeira epiclese, nas novas Orações Eucarísticas: na clássica, o cânone romano, existe a invocação a Deus, mas sem, explicitamente, nomear o Espírito.
A epiclese não faz só parte da Eucaristia. A oração consacratória central de todos os sacramentos, depois da anamnese ou memória de louvor a Deus, contém sempre a oração de epiclese:
- pede-se-lhe que santifique a água do Baptismo: «Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça de vosso Filho Unigénito, para que o homem, criado à vossa imagem, no sacramento do Baptismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo»;
- na Missa Crismal invoca-se o Espírito sobre os óleos para os sacramentos e, a seguir, na Confirmação, pede-se a Deus que envie o seu Espírito sobre os confirmandos para que os encha de seus dons;
- no sacramento da Reconciliação também se nomeia o Espírito:
«enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados»;
- na Unção dos Doentes o sacerdote ora pelo doente na fé da Igreja: «é a epiclese própria deste sacramento» (CaIC 1519);
- no sacramento da ordem é onde, talvez, com maior expressividade o bispo, impondo as mãos sobre a cabeça dos ordenandos e pronunciando a seguir a invocação do Espírito, põe em relevo a força da epiclese;
- e, finalmente, no Matrimónio: «Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão do amor de Cristo e da Igreja» (CaIC 1624).
Invocando a força do Espírito nos nossos sacramentos, estamos a reconhecer que é Deus quem salva e que o protagonismo é da ação do seu Espírito santificador.
Como dizia São Cirilo de Jerusalém, no século IV: «Depois de santificados por esses hinos espirituais, suplicamos ao Deus benigno que envie o Espírito Santo sobre os dons colocados, para fazer do pão corpo de Cristo e do vinho sangue de Cristo. Pois tudo o que o Espírito Santo toca é santificado e transformado» (Catequeses Mistagógicas V,7).
«O Pai atende sempre a oração da Igreja do seu Filho, a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime a sua fé no poder do Espírito. Tal como o fogo transforma em si tudo quanto atinge, assim o Espírito Santo transforma em vida divina tudo quanto se submete ao seu poder» (CaIC 1127).
Fonte: https://www.liturgia.pt/dicionario/dici_ver.php?cod_dici=142